Mulher acha peixe de 12 quilos e 1,10 metro no quintal de casa atingida por cheia no Acre

Dona de casa Gessiane Monteiro, de 32 anos, tomou um susto quando saiu de casa e foi avisada pelo vizinho que tinha um bicho “enorme” no quintal de casa, em Sena Madureira, no interior do Acre. “Pensamos que era um jacaré”, disse.

Gessiane Monteiro, de 32 anos, tomou um susto quando saiu de casa e achou um peixe com mais de um metro — Foto: Arquivo pessoal

A dona de casa Gessiane Monteiro, de 32 anos, tomou um susto quando saiu de casa, na manhã dessa sexta-feira (26), e se deparou com um “bicho enorme” se mexendo na água. Quando chegou mais perto viu que se tratava de um peixe da espécie Caparari, medindo 1,10 metro e aproximadamente 12 quilos.

Ela mora no bairro Segundo Distrito, em Sena Madureira, no interior do Acre, uma das cidades mais afetadas pela cheia no estado.

“Como a água baixou e saiu de dentro de casa, a gente tinha limpado para voltar. Nós temos uma canoa e ajudamos os vizinhos. Aí meu vizinho pediu uma carona na canoa e disse para o meu esposo que achava que tinha pulado em cima de um bicho no nosso quintal. Ainda estava com uns 30 centímetros de água e ele pensava que era um jacaré. Quando chegamos lá, vimos que era um peixe muito grande”, conta.

Dez municípios foram atingidos pela cheia de rios no Acre. Mais de 130 mil pessoas chegaram a ser atingidas pelas enchentes dos rios. O governo federal reconheceu o decreto de calamidade pública por causa dos alagamentos. Os municípios de Rio Branco, Sena Madureira, Santa Rosa do Purus, Feijó, Tarauacá, Jordão, Cruzeiro do Sul, Porto Walter, Mâncio Lima e Rodrigues Alves enfrentam dificuldades com parte da população desabrigada (encaminhada para abrigos) e desalojada (levada para casa de parentes).

Gessiane e o pai acharam um peixe de 12 quilos no quintal de casa — Foto: Arquivo pessoal

Gessiane lembra que no início todos ficaram com medo por não saber de qual animal se tratava. Mas, foi com o pai e o cunhado ver de perto o que era.

“Entramos dentro da água e, quando mexemos nele, ele ainda estava em uma parte funda e vimos que estava vivo, aí o meu pai ficou batendo na água e ele deu uma lapada. Ele foi para o raso e nós vimos que era um peixão. Foi uma luta para a gente conseguir tirar da água”, lembra.

Bem humorada, ela conta que depois que conseguiram retirar o animal da água eles levaram para casa e fizeram o almoço. “A gente reuniu a família toda e demos também para os vizinhos, e já foi tudo, acabou”, brinca.

Peixe estava no quintal da casa, o pai dela e o cunhado ajudaram a tirar o animal da água — Foto: Arquivo pessoal

Uma semana fora de casa

A mulher fala que ficou fora de casa por uma semana, pois a água entrou na casa dela e dos parentes, que moram em outras casas no mesmo terreno. Ela mora no local com o marido e três filhos.

“Saímos de casa e fomos para a casa de uma irmã. Mais de 25 pessoas em uma casa com um quarto. A gente se arrumou por lá mesmo, mas agora todo mundo já voltou para casa. Voltamos na quinta [25].”

Cheia em Sena Madureira

A situação na cidade de Sena Madureira, no interior do Acre, ainda é complicada por conta da cheia do Rio Iaco. Mesmo com uma vazante (diminuição no nível das águas) , as águas do rio continuam atingindo 17 bairros e mais de 27,6 mil moradores.

O nível do rio continua baixando, mas o manancial segue acima da cota de transbordo, que é de 15,20 metros. Segundo dados do Corpo de Bombeiros, o rio marcou 16,99 metros nessa sexta (25).

Essa é a maior cheia desde 1997, quando o manancial marcou 19,40 metros. Ainda conforme os dados, 1,7 mil famílias estão desalojadas, ou seja, foram levadas para casas de parentes e outras 299 estão desabrigadas, foram encaminhadas para abrigos públicos.

Informações do gabinete de crise instalado na cidade apontam que, ao todo, Sena Madureira está com 47 abrigos instalados em escolas, igrejas e repartições públicas. Ao todo, 17 bairros bairros estão atingidos pelas águas.

Para ajudar os moradores, uma rede de solidariedade e mobilização se formou para arrecadar donativos e enviar aos atingidos que moram nas dez cidades afetadas pelas cheias dos rios. Alguns rios já começaram a vazar, mas a situação segue complicada pois, após a cheia, ainda vem a limpeza das cidades e casas atingidas pelos alagamentos.

Em Sena Madureira, rio já atinge mais de 27, 6 mil pessoas — Foto: Marcos Vicentti/Secom

Calamidade pública

O Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) reconheceu, na segunda (22), em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), estado de calamidade pública em 10 cidades do Acre atingidas por inundações causadas pela cheia dos rios no estado.

Os municípios de Rio Branco, Sena Madureira, Santa Rosa do Purus, Feijó, Tarauacá, Jordão, Cruzeiro do Sul, Porto Walter, Mâncio Lima e Rodrigues Alves enfrentam dificuldades com parte da população desabrigada (encaminhada para abrigos) e desalojada (levada para casa de parentes).

O governador do Acre, Gladson Cameli, havia decretado calamidade em uma edição extra do Diário Oficial do estado (DOE) também nesta segunda. Pelo menos em oito dessas cidades atingidas os rios estão com vazante (diminuição no nível das águas) e com estabilidade. Mesmo assim, a cheia é considerada histórica e atinge cerca de 118 mil moradores do estado acreano.

Imigrantes ocupam a Ponte da União, em Assis Brasil — Foto: Raylanderson Frota/Arquivo pessoal

Pandemia, enchente, surto de dengue e crise migratória

O Acre registrou mais quatro mortes por Covid-19 em apenas 24 horas. As informações são do boletim da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) desta sexta (26). São 474 novos casos da doença fazendo com que o número de pessoas infectadas passe de 56.257 para 56.731. O total de mortes agora é de 986.

Desde semana passada, alguns rios ultrapassaram a cota de transbordo atingindo milhares de família. A cidade de Tarauacá, no interior do Acre, chegou a ficar com 90% do território tomado pela água. O Acre chegou a ter 130 mil pessoas atingidas de alguma forma pela cheia dos rios na capital e no interior do estado. A Defesa Civil considera atingidas pela cheia casas onde a água chegou, desabrigando ou não os moradores.

A dengue é outras preocupação. Em menos de dois meses, o Acre registra mais de 7,5 mil casos suspeitos de dengue e outros 1.683 casos já confirmados da doença. Os dados são do boletim epidemiológico do Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) e levam em consideração os registros entre os dias 1º de janeiro até essa terça (23).

Também nesta semana se agravou o cenário dos imigrantes que estão retidos na fronteira do Acre com o Peru desde o ano passado, quando o país vizinho decidiu fechar as fronteiras e impedir a passagem deles para o lado peruano. Os imigrantes já estavam sendo atendidos pela prefeitura de Assis Brasil, mas no último domingo (14) se rebelaram e ocuparam a ponte da cidade.

Pelo menos 40 imigrantes que fazem rota reversa pelo Acre e tentam entrar no Peru continuam a acampados na Ponte da Integração, quase 10 dias depois de ocuparem o local. Ao todo a cidade ainda tem mais de 300 imigrantes depois de ter mais de 500.

(G1)

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