SP vive contradição com transporte lotado e restrições para comércio
Após 28 dias na fase emergencial, São Paulo vive aglomeração em metrô e trens e passageiros relatam drama para trabalhar
O Estado de São Paulo retorna nesta segunda-feira (12) à fase vermelha, um pouco menos restritiva que a emergencial, que vigorou até domingo (11). Para o trabalhador paulistano que pega transporte público, porém, as mudanças são pequenas, uma vez que a capital paulista amanheceu o dia e começou a semana com garagens de ônibus cheias de coletivos sem rodar e o transporte público abarrotado.
A reportagem esteve, desde o fim da madrugada, nas estações Luz, Barra Funda e Itaquera para acompanhar a movimentação nos trens da CPTM e do Metrô. As imagens se repetem em relação à semana passada, com milhares entrando e saindo dos vagões, com aglomeração nas escadas rolantes das estações e nas portas dos vagões.
O helicóptero da Record TV mostrou que os ônibus estão nas garagens da Grande São Paulo, o que colabora para promover as aglomerações nos poucos coletivos que estão nas ruas e, consequentemente, lotar as outras modalidades de transporte, como metrô e trens. Em um estacionamento da Grande São Paulo, é possível ver mais de 50 coletivos encostados e sem rodar.
Usuários de transporte público enfrentam aglomerações em vagões lotados para chegar ao trabalho e comparecer em consultas médicas. Entre os relatos, passageiros dizem que precisam se expor a riscos para não perder o emprego e médicos agendados. “As medidas não funcionam, quem precisa vai continuar saindo. O certo era todo mundo em casa por um tempo, com auxílio para se manter, até melhorarem as coisas”, diz Lucas Bueno, estudante de 19 anos.
A auxiliar de limpeza, Josilene Costa, de 42 anos, saiu de Guianeses, na zona leste da capital paulista, para trabalhar em um restaurante na Alameda Santos, no Jardim Paulista. “Se eu pudesse não pegava, a gente está correndo riscos né? Mas a gente precisa trabalhar. Achei péssimo (as medidas do governo). Trabalho num restaurante, tá tudo fechado, tive suspensão de contrato. O patrão não tem nem como mandar a gente embora, não vai ter dinheiro pra pagar pra todo mundo”, lamenta.

A profissional autônoma, Letícia Xavier, 32 anos, faz doces para vender. “Peguei covid mês passado, fiquei muito mal, muitas dores no corpo, dor de cabeça, fui ao médico, fiz o teste e confirmou. Fiquei os 14 dias em casa”, afirma. Letícia vive com o marido bombeiro, vacinado recentemente. “Estava indo ao médico para uma consulta de rotina”, disse ela que saiu do Jabaquara, na zona sul, com destino ao bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo. “Essas medidas não resolvem nada, estou arrependida de sair de casa com ônibus lotado, metrô cheio.”

O estudante Lucas Bueno, de 19 anos, saiu do bairro do Tatuapé, na zona leste da capital, para se encontrar com a mãe, na Sé, região central da cidade. Ele conta que não pegou covid-19 e mora com os avós, vacinados semana passada. O jovem saiu de casa para acompanhar uma consulta médica com a mãe. “As medidas não funcionam, quem precisa vai continuar saindo. O certo era todo mundo em casa por um tempo, com auxílio para se manter, até melhorarem as coisas.”

A Estação da Luz, no centro de São Paulo, registrou intensas aglomerações, sobretudo, no desembarque dos trens da CPTM.

As superlotações no transporte coletivo são frequentes até mesmo durante a fase emergencial do Plano SP, com maiores restrições às atividades econômicas.
Segundo a avaliação de especialistas em epidemiologia e infectologia, o transporte coletivo é um dos vetores mais potentes para a proliferação do novo coronavírus.
Nas últimas semanas, entre Metrô, CPTM e ônibus, aproximadamente 4 milhões de pessoas utilizam transporte coletivo por dia.
Atualmente, o Metrô e a CPTM operam com a mesma frota anterior ao início da pandemia. No entanto, segundo passageiros, a manutenção das frotas não é o bastante para evitar as superlotações.
Especialistas sugerem a ampliação de frotas e horários, diminuição de intervalo de espera pelos trens e, durante os períodos mais críticos da pandemia, mais restrições das atividades econômicas.
O Estado de São Paulo retornou nesta segunda-feira (12) à fase vermelha. Entenda o que muda com o avanço a esta etapa do Plano SP.
Nesta fase, estão mantidos o toque de recolher das 20h às 5h, a restrição de atendimento presencial em todos os serviços essenciais e haverá reforço da fiscalização sobre eventos e aglomerações. A recomendação para o escalonamento na entrada e saída de trabalhadores da indústria, serviços e comércio continua válida, assim como a obrigatoriedade do teletrabalho e a proibição de celebrações religiosas.
“Temos redução no número de casos e internações, mas ainda não temos redução no número de óbitos. Nossa previsão é que isso só deve acontecer a partir do dia 15 de maio”, afirmou João Gabbardo, coordenador executivo do Centro de Contingência de Covid-19 em São Paulo, durante a coletiva de anúncio da volta à fase vermelha.
Na estação da Luz, a transferência da CPTM para as linhas 1 e 4 do Metrô também registrou aglomerações na manhã desta segunda-feira (12).

Com a pandemia de covid-19 há mais de um ano, o poder público ainda não encontrou solução para barrar as aglomerações e passageiros relatam exposição a riscos e indignação ao se locomover em São Paulo.
Para frerar o avanço da pandemia, a prefeitura da cidade de São Paulo antecipou cinco feriados para o fim de março e início de abril. A medida, no entanto, não mostrou eficácia: a taxa de isolamento máxima registrada foi de 50%, segundo dados do Simi (Sistema de Monitoramento Inteligente do Estado de São Paulo).
Na linha azul do Metrô, passageiros esperam a chegada do trem, que chega lotado as plataformas. Indignados, usuário do transporte público afirmam que precisam sair de casa para trabalhar. “Se eu pudesse não pegava, a gente está correndo riscos né?”, diz Josilene Costa, de 42 anos, auxiliar de limpeza.

(R7)