Casal abre mão do sexo em nome da fé: ‘Sem beijos longos e camas separadas’
O casal Ana Clara Lima de Oliveira, 21, e Douglas Fernandes Baracho, 24, se conheceram na academia, na cidade onde residem, Diamantina (MG). O namoro engatou do primeiro encontro, e, um ano depois, já estavam morando juntos. O início da vida a dois não foi fácil.
As informações são do UOL – Imagem: Reprodução/ Instagram/ @anac.Ido
Eu estava na minha pior fase, com problemas de ansiedade e depressão, sozinha, meu pai mora no exterior, e eu não tinha dinheiro para comer. Por dois meses o Douglas bancou todas as minhas refeições até eu conseguir emprego. Ele também estava na sua pior fase, com depressão, e tinha acabado de ser “convidado a se retirar” da antiga academia, porque treinava muito pesado (para compensar suas dores) e acabou indo trabalhar na academia que eu frequentava. Resolvemos morar juntos no meio de tudo isso, disse Ana, que atualmente trabalha como secretária. Douglas é personal trainer masculino e professor de Taekwondo.
A vontade de fazer a relação dar certo motivava o casal, que também buscou refúgio na religião.
“Quando nos conhecemos, eu estava afastada mas o Douglas sempre ia à missa acompanhado da avó. Então, quando começamos a namorar, passamos a ir juntos todos os domingos, mas não estávamos firmes na fé. A gente não orava, faltava quando estávamos cansados. Com o tempo fomos nos aproximando de Deus e da Igreja. A conversão veio depois, e foi maravilhoso.”
- Ana Clara Lima de Oliveira
Após a conversão, e cada vez mais entregues à religião, Ana e Douglas decidiram seguir à risca as orientações da igreja, e optaram em interromper as relações sexuais.
“Decidimos optar pela castidade. Buscávamos cada vez mais a Deus, mas continuavamos com a imoralidade sexual. Eu me sentia horrível após a relação sexual, não conseguia fazer as minhas orações, e o Douglas sempre ficava para baixo. A igreja ensina que a relação sexual é reservada para o casamento, como um ato de entrega total entre duas pessoas para construir uma união para a vida, a criação de filhos e a paz.”
Segundo a secretária, no início foi difícil parar, mas o resultado de um exame preventivo contribuiu para a decisão do casal.
“Eu descobri uma lesão no colo do útero e tive que fazer uma cirurgia para remover essa lesão. O Douglas esteve ao meu lado todo momento e, após a cirurgia, não tivemos mais relação”, afirma.
A vida sexual do casal deverá ser retomada somente após a oficialização do matrimônio, previsto para janeiro do próximo ano.
“O sexo no casamento é visto como um dom sagrado, uma expressão de amor e um compromisso de fidelidade, que deve ser vivido dentro da santidade e da exclusividade do relacionamento conjugal.”
Sem beijos longos e camas separadas
Ana conta que as mudanças na vida do casal foram positivas. Segundo ela, a decisão de interromper o sexo contribuiu para o fortalecimento da fé, amizade companheirismo entre os dois. Para não aguçar o desejo o casal também modificou a rotina.
” Nossa relação melhorou infinitamente. Controlamos o desejo nos preenchendo de coisas que não são da carne, mas do espírito. Quando você se enche da palavra de Deus, é muito mais fácil resistir. Fizemos também algumas mudanças, como evitar beijos muito longos, não trocar de roupa na frente um do outro e levar a roupa para o banheiro para não passar de toalha pela casa. No momento optamos por dormir em cama separadas.”
Enquanto seguem firmes no propósito, eles fazem planos para o futuro.
“Após o casamento, iremos nos unir em uma só carne e viver seguindo o propósito de um casal perante a Deus, que é fortalecer a fé mútua, apoiar-se para alcançar o céu, trazer filhos ao mundo, cuidar deles e viver uma união baseada no amor, respeito e fidelidade”, afirma Ana.
Não é incomum, mas precisa de acordo
A opção de Ana e Douglas pela abstinência sexual não é incomum entre casais, e pode ter como base essas situações diversas, que vão além de questões religiosas. No entanto, é importante que a decisão seja tomada em como um acordo.
“Se os dois decidem que a vida deles será de companheirismo e cumplicidade, sem vida sexual, isso não afeta o relacionamento, porque é um contrato. Só se torna um problema quando é a opção de um e não dos dois. São vários os motivos, como por não gostar de sexo, não querer ter filhos, porque sois religiosas. É algo que precisa ser bem conversado entre ambos”, explica Márcia Lawant Atik, psicóloga clínica, terapeuta sexual e de casal.
Segundo a especialista, há outras formas de prazer que podem ser contempladas dentro de um relacionamento.
“Costumamos associar erótico a sexualidade, ao sexo, mas erótico é tudo aquilo que dá prazer, que preenche, às vezes pode ser comida, bebida, atividade física, trabalhos filantrópicos. Tem muita gente que é feliz com a vida que tem, com os prazeres que advém de atividades das mais diversas. Quando falamos de comportamento, nunca podemos eleger uma situação um caso, pois essa falta de prazer, no nosso discurso de pessoas desejosas, é diferente para pessoas que tem outros desejos, como servir a humanidade, por exemplo, é até desejos mais elevados, mas não tem interesse no desejo sexual.”
Márcia Lawant Atik, psicóloga clínica, terapeuta sexual e de casal
Márcia ressalta que, caso não haja acordo entre o casal e a decisão seja unilateral, a abstinência sexual pode se tornar um problema.
“Sexo em um relacionamento parte de um contrato de possibilidades e desejo. Se a pessoa desejada tem transexual e não tem como canalizar, com certeza fica angústia, alguma situação que traz dor ou desconforto, apesar que a prática sexual sozinha é possível, a descarga do desejo através do gozo ou de uma ejaculação é possível. Existe muito preconceito quando você fala de masturbação, mas é uma prática sexual que substitui a falta de sexo quanto não há uma relação que permita ter vivência sexual”, explica.
Parar terapeuta, que já atendeu casais com mais de 15 ou 20 anos sem sexo, a chave para um bom relacionamento está no equilíbrio das trocas entre os envolvidos.
“Se é um casal que tem uma vida de cumplicidade, parceria e objetivos em comum, com certeza terão um relacionamento saudável. Gosto muito de uma frase de Saint-Exupéry que diz: ‘Amar não é apenas olhar um nos olhos do outro, mas, principalmente, ambos na mesma direção’. Acho que isso resume o que é relacionamento saudável, com ou sem sexo”.