Campanha eleitoral ajudou a aumentar casos de Covid-19, diz médico

Movimentações de políticos pedindo votos nas ruas brasileiras nas últimas semanas é apontada como fator negativo por Gonzalo Vecina Neto

A campanha eleitoral no Brasil pode ser apontada como vilã na alta de contaminações por coronavírus, diz o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, fundador e ex-diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e professor da USP (Universidade de São Paulo).

Segundo ele, o movimento de políticos nas ruas pedindo votos, aliado aos planos de relaxamento da quarentena definidos pelos governos, contribuíram para que os hospitais em todo o Brasil voltassem a registrar aumento dde internações.

Vecina Neto, porém, faz questão de destacar que a eleição não pode ser demonizada.

“O comportamento das pessoas, o exercício da eleição não teve grande problema. Os cuidados que foram tomados foram bastante adequados. Mas a forma como foram conduzidas as campanhas eleitorais e toda permissividade, isso sim eu acho complicado”, destacou ele, 

A campanha eleitoral pode ser apontada como vilã na alta de contaminações?

Acho que sim, porque houve aglomeração, o é mortal. Quando se junta muita gente, facilita o trabalho do vírus e dificulta a dispersão de aerossóis. As gotículas que saem das nossas bocas se disseminam, são emitidas para outras pessoas.

Como uma parte da campanha é feita no corpo a corpo, com certeza influenciou no aumento. Mas não é só isso. Houve também um relaxamento, com abertura de estabelecimentos que não deveriam abrir.

Seria melhor termos cancelado as eleições deste ano?

O comportamento das pessoas no exercício da eleição [dia da votação] não teve grande problema. Os cuidados tomados foram bastante adequados. Mas a forma como foram conduzidas as campanhas eleitorais e toda a permissividade, acho complicadas.

Em São Paulo, a revisão do Plano São Paulo (programa estadual de reabertura econômica) foi remarcada para o dia seguinte da eleição, em 30 de novembro. Para você foi uma definição política?

É uma pergunta que já está respondida. Foi para não perder votos. Infelizmente foi o que movimentou os políticos.

Os governos relaxaram demais a quarentena?

Bares e restaurantes com poucas janelas e pouca ventilação não poderiam ter sido abertos. O ar-condicionado não adianta. Não há solução mágica para o vírus.

O que existe é o que sabemos: a gente emite aerossóis, eles são respirados, encontram nossos olhos diretamente ou se depositam em cima de superfícies em que podemos colocar as mãos e depois levar aos olhos e boca. É dessa forma que a gente se infecta.

Em 2021 nós enfrentaremos os mesmos problemas?

Goste ou não goste, a maior parte do ano que vem será exatamente assim. Se a gente der moleza, o número de casos e de mortes vai continuar aumentando. Enquanto não conseguir ter acesso à vacina e vacinar um monte de gente, nós vamos ter problemas. Isso precisa ficar claro na cabeça das pessoas. (R7)

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