‘Eu tive um surto e resolvi entregar a criança’, diz mãe de bebê de SC encontrado em SP
Fantástico entrevistou com exclusividade a mãe e a avó da criança, em um caso que é investigado pela polícia como tráfico de pessoas.
Esta semana, um bebê de dois anos, de Santa Catarina, foi encontrado a 700 quilômetros de casa, em São Paulo. O Fantástico entrevistou com exclusividade a mãe e a avó da criança, em um caso que é investigado pela polícia como tráfico de pessoas.
A jovem, de 22 anos, é mãe solo, mora em Santa Catarina e prefere não ser identificada. Ela diz que, durante a gravidez, em 2020, participou de um grupo numa rede social, de apoio a mães. E foi quando passou a trocar mensagens com Marcelo Valverde Valezi”, de São Paulo.
“Ele contou a história dele, que ele é ‘tentante’ junto com a mulher dele, já tiveram diversos abortos”, relata a mãe. E as propostas, segundo ela, começaram: “Ele falava muito que se eu botasse uma criança no mundo para sofrer, aquilo ia me gerar carma, gerar carma na criança, então ele foi usando tudo o que ele podia”.
O bebê nasceu em abril de 2021. No mês passado, três anos depois dos primeiros contatos, ela e Marcelo voltaram a se falar com mais frequência.
O Fantástico teve acesso a mensagens trocadas com Marcelo. De acordo com as investigações, Marcelo explicou que não queria mais ficar com o bebê, mas contou que conhecia uma mulher, Roberta Porfírio, que tinha interesse. Marcelo então passou a combinar um encontro com Roberta, no dia 30 de abril.
Inicialmente, a entrega seria na praça de alimentação de um shopping em São José, mas Roberta teria se atrasado. O encontro então foi na rua. Uma câmera de segurança registrou o momento em que um carro buscou mãe e filho. Segundo a mãe da criança, o carro parou no estacionamento de um supermercado e ela afirma que foi convencida a tomar a decisão de entregar a criança.
“Eu teria que tomar uma decisão ali mesmo, né? Por pressão e pela manipulação, que eu já estava ali naquele local, dentro do carro deles, eu acabei cedendo e fazendo isso, né? Eu tive um surto e resolvi entregar a criança ele, mas sem pensar que poderia ser uma quadrilha de tráfico ou algo do tipo”, revela a mãe.
Para não voltar pra casa sem o filho, a mãe pediu para passar a noite num hotel, como mostram as imagens obtidas pelo Fantástico. Roberta Porfírio pagou a diária em dinheiro.
No dia seguinte, feriado de primeiro de maio, a mãe voltou pra casa. No mesmo dia o bebê foi levado à praia de Balneário Camboriú, onde Roberta tem família. Em seguida, o menino foi levado de carro até Tatuapé, em São Paulo. A jovem conta que entrou em desespero.
“Foi ali naquele momento que eu comecei infelizmente, a cair a minha ficha do que eu realmente tinha feito. E foi aonde no outro dia eu tentei contra minha própria vida, né?”
A mulher diz que sofre de ansiedade e depressão e foi socorrida na UTI de um hospital, onde ficou em coma. A mãe dela, a avó do menino, sentiu falta da criança.
“A gente começou a procurar nos lugares mais óbvios, né, assim, tipo na casa de alguém, algum conhecido. Corremos atrás de uma delegacia para prestar depoimento. Muito triste, parece assim que a pessoa enfia uma faca no teu peito, e a dor é tão grande que não consegue puxar aquilo, tirar aquela dor, sabe? É muito desesperador”, conta a avó.
Pelas imagens de câmeras de segurança, a polícia identificou um problema na placa do carro usado para buscar o bebê – estava adulterada, com uma fita na placa.
Na segunda-feira passada, dia 8 de maio, sete dias depois do bebê ser levado pra São Paulo, a Polícia Militar conseguiu localizar o carro, no Tatuapé. No volante, estava Marcelo e, no banco de trás estavam Roberta e o bebê. Marcelo e Roberta foram presos. A criança foi recolhida para um abrigo.
O que dizem as defesas
Marcelo e Roberta estão sendo investigados por tráfico de pessoas. A polícia vai recolher informações para apurar se houve algum tipo de ganho financeiro com a entrega do bebê.
“Não houve rapto de criança, não houve nada disso. Tudo foi feito mediante consentimento da própria genitora do menor. Ela quis. O Marcelo na intenção de ajudar, pensando no bem da criança também, foi que ele passou o contato da Roberta”, diz Laryssa Nartis, advogada de Marcelo.
“Eles estavam na praia. No meio do feriado houve essa chamada que a moça estava desesperada. Comoveu a Roberta que falou ‘então tá, vamos lá pra ver’, para ajudar mesmo”, diz Olavo Carlos Ferreira, advogado de Roberta.
Sobre a adulteração da placa, o advogado afirma: “Ela estava com o carro dela. Pra mim, isso não existe”.
A criança está em um abrigo, em São Paulo. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina determinou que ela seja transferida na segunda-feira (15) para a cidade natal, em Santa Catarina. Mas não voltará ainda para a casa da mãe. (G1)