Morte de bebê intubado de forma errada no estômago é apurada pela Polícia Civil e Cremesp
Menino Bryan de 1 ano e 11 meses, ainda esperou 9 horas por vaga de internação em hospital em São Carlos, no interior de São Paulo. ‘Peguei meu menino morto’, lembra mãe.
A Polícia Civil e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) investigam a morte do bebê Bryan Santos Cerqueira Pinto de 1 ano e 11 meses, em São Carlos (SP), no fim de abril.
A família diz que uma intubação foi feita de forma errada no estômago e o menino não resistiu. Ele ainda teve que esperar 9 horas por uma vaga de internação em um hospital.
O caso foi registrado como morte suspeita. A Secretaria de Segurança Pública informou que a Polícia Civil pediu laudos do Instituto Médico Legal (IML) e vai investigar o caso.
Febre alta
No dia 28 de abril, ele estava com febre mas, mesmo assim, dormiu bem. No dia 29 ele acordou com febre alta e os pais levaram um menino até a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do bairro Cidade Aracy.
“Teve a febre de 40 graus as 6h e a gente levou ele para a UPA. Chegamos lá 7h e fomos atendidos 7h30 pela clínica geral. Ela receitou para ele fazer inalação e uso da bombinha”.
Pedido de internação e longa espera
O tratamento não deu o resultado esperado e os profissionais da UPA solicitaram uma vaga para internação pela Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde (Cross), mas a vaga não veio com o passar do dia.
“[Deu] 15h a gente começou a ver que ele tava ficando roxo, com a boquinha roxa”, disse a mãe.
Após 9 horas e sem vaga para internação, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi chamado e os pais foram retirados da sala. Bryan foi intubado e levado para o Hospital Universitário.
“O médico veio avisar a gente de uma forma desesperadora, que o nosso filho estava em estado gravíssimo com 20% de chance [de sobreviver] e a gente ficou desesperado, ele estava bem, não era para ter acontecido isso. A intubação não ia melhorar?”, afirmou a mãe.
A intubação é um procedimento que visa manter vias aéreas abertas até o pulmão do paciente para auxiliar na respiração.
O menino não resistiu. O prontuário médico confirma que na sala de emergência do Hospital Universitário foi constatada a intubação do estômago.
“O médico me disse que a intubação não tinha sido feita corretamente, foi no estômago a intubação. Pedi para me despedir. Colocaram ele no meu colo e ali meu chão desabou, né? Porque eu peguei meu menino morto”, lembrou.
“Bryan era a nossa luz. Falaram muito que ele morreu por causa da síndrome de Down, mas não, a síndrome de Down não atrapalhou em nada”, disse a mãe de Bryan, Janaína Santos Cerqueira Pinto.
Denúncias da família
Na semana passada, a família levou o caso para a polícia e também para o Cremesp. Na denúncia, a família pede que se apure e se instale a abertura de sindicância sobre o que aconteceu.
Reitera que é “inadmissível aceitar o tempo de espera da UPA” e que a intubação errada no estômago foi um “fator primordial para a morte”.
“Se meu filho tivesse ido de uma forma natural, mas não. Intubaram o meu filho errado. Teve a demora. Tudo isso contribuiu”, lamentou.
O nome do profissional que fez a intubação não foi divulgado.
O que dizem a Cross e a prefeitura?
A Cross informou que a UPA pediu a vaga para o menino, que foi liberada para o HU, mas não detalhou o motivo da demora de 9 horas.
Sobre a falta de pediatra na UPA no dia que a família buscou atendimento, a Secretaria Municipal de Saúde nformou apenas que a pasta investiga o caso e que a falta de pediatra na unidade ainda não foi confirmada, apesar do que a mãe de Bryan afirmou.
O que diz o Cremesp?
Em nota, o Cremesp informou que está investigando a denúncia, mas não pode dar detalhes porque as apurações correm em sigilo.
O Cremesp é uma autarquia federal e tem a função de supervisionar a ética profissional médica. Quando recebe uma denúncia, o órgão tem que abrir uma sindicância para investigar o caso. Ela pode se transformar em um processo e até resultar na cassação do direito de exercer a medicina. As informações são do G1.