‘Não vou desistir’, diz jovem que perdeu Enem e sonha ser delegado
Sem conseguir pegar o ônibus, que estava lotado, Davi não chegou a tempo para a prova do último domingo (17)
Por trás de cada “atrasado do Enem”, há uma história – e uma pessoa que vê todo o esforço de um ano inteiro indo por água abaixo. Este é o caso do fluminense Davi Barreto, 19 anos, que sonha em se formar em Direito e um dia se tornar delegado de polícia.
No último domingo (17), quando foi aplicada a primeira prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), Davi saiu de casa por volta das 11h50 e, como fizera em 2019, quando prestou o exame pela primeira vez, decidiu passar no mercado para comprar algo para comer.
Neste ano, no entanto, a sorte não estava a favor do jovem. Além de a fila do mercado estar longa, o ônibus se encontrava lotado, o que o obrigou a ter que esperar pela próxima condução. “Quando cheguei na metade do caminho, percebi que a escola estava muito mais à frente e que não iria conseguir chegar a tempo.”
Desesperado, Davi não pensou duas vezes e ligou para a sua melhor amiga, que prontamente o consolou, dizendo que sempre haveria uma próxima oportunidade. Apesar do ombro amigo, o jovem não pôde evitar a frustração.
“Estudei o ano todo por conta própria, o que, por si só, já implicou em vários desafios. A conexão aqui de casa é bem ruim, então por várias vezes, tive que rotear a internet dos meus amigos”, afirma.
Davi conta que gostaria de ter feito cursinho, mas não teve condições. Atualmente, o único da casa que está empregado é o irmão, que trabalha como frentista. “Meu pai é pedreiro, mas sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) e teve de ser afastado. Minha mãe é dona de casa e faz uns bicos quando dá.”
Apesar do episódio do último domingo (17) e de todas as dificuldades, o jovem garante que não pensa em desistir. “Não vou desanimar. Quando a gente cai, é preciso levantar e correr atrás”, diz. “Eu vim de uma família pobre. Meus pais não tiveram a oportunidade de fazer uma faculdade, mas eu tenho.”
O desejo de cursar Direito e se tornar delegado de polícia vem justamente da vontade de tornar o mundo um lugar mais justo e menos desigual. Ao longo de toda a vida, Davi passou por diversas situações em que foi discriminado, mas nunca pensou em denunciar por acreditar que não seria levado a sério.
“Infelizmente, a Justiça no Brasil é cega, surda e muda. Quero cursar Direito para me conscientizar sobre meus direitos e poder ajudar outras pessoas que, assim como eu, passaram por situações de injustiça”, diz.
R7