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Quando a pressão arterial 12 por 8 deixou de ser ‘normal’

A nova diretriz brasileira de hipertensão muda a forma como entendemos a pressão arterial e reforça que cuidar cedo faz toda a diferença.
As informações são do R7 Ciência para o Dia a Dia – Imagem gerada por IA (R7)

Durante muito tempo aprendemos que a pressão ideal era 12 por 8. Essa era a referência repetida por médicos, professores e até comerciais de TV. Mas a ciência evolui, e a nova Diretriz Brasileira de Hipertensão de 2025 traz uma mudança importante: 12 por 8 não é mais considerada normal, e sim um sinal de alerta chamado pré-hipertensão.

Isso não significa que quem apresenta esse nível precise sair correndo para tomar remédios. Mesmo pequenas elevações já merecem atenção, porque a pressão alta é uma das principais causas de infarto, acidente vascular cerebral e doença renal.

Por isso, a orientação é começar a cuidar do estilo de vida mais cedo, reduzindo o consumo de sal, mantendo um peso saudável, praticando atividade física e evitando o excesso de álcool.

Outra novidade é que as metas ficaram mais rigorosas. Quem já tem hipertensão deve, sempre que possível, manter a pressão abaixo de 13 por 8. Esse ajuste pode parecer pequeno, mas faz grande diferença quando pensamos no risco cardiovascular ao longo da vida.

Segundo a pesquisadora em Fisiologia Vascular e bolsista de pós-doutorado da Fapesp, Patrizia Dardi, a proposta é bastante interessante. A hipertensão é uma condição silenciosa que pode evoluir para problemas graves, como comprometimento renal, infarto e acidente vascular cerebral.

Quanto mais cedo o paciente for alertado e tiver a oportunidade de mudar seus hábitos, maiores são as chances de evitar a hipertensão ou, ao menos, conquistar um prognóstico mais favorável.

Na avaliação da pesquisadora, se a nova diretriz for realmente implementada com seriedade, ela poderá transformar de forma significativa o cenário das doenças cardiovasculares no Brasil ao longo dos próximos 10 a 15 anos.

Esse cuidado em enxergar além do número também foi reforçado em um artigo publicado em 2025 no American Journal of Medicine. O estudo revisa um fenômeno chamado hipertensão paroxística, caracterizado por aumentos repentinos da pressão acompanhados de sintomas como dor de cabeça, palpitações e sudorese.

A pesquisa mostra que nem sempre a pressão alta aparece de forma contínua. Em muitos casos surgem picos intensos e transitórios, que assustam pacientes e médicos, mas exigem uma interpretação criteriosa para evitar exames desnecessários e priorizar a qualidade de vida.

Muitas vezes o quadro lembra um tumor raro, o feocromocitoma, mas em 99% dos casos a causa é outra, envolvendo fatores como ansiedade, falhas no reflexo que regula a pressão ou mecanismos ainda pouco compreendidos.

O trabalho destaca a importância de não banalizar essas variações e, ao mesmo tempo, de não transformar o cuidado em uma busca interminável por diagnósticos improváveis. A recomendação é valorizar a história clínica, tratar os picos quando necessário e, sobretudo, preservar a qualidade de vida dos pacientes.

A diretriz brasileira segue a mesma linha de personalização. Hoje se valoriza mais exames que medem a pressão por 24 horas ou no próprio domicílio, porque eles revelam a realidade do dia a dia e não apenas aquele número registrado no consultório.

Além disso, há recomendações específicas para mulheres, idosos e até crianças, o que torna o cuidado mais personalizado. Quanto mais cedo cuidamos, menores são as chances de enfrentar complicações graves no futuro.

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