Transplante de fezes pode acabar com a obesidade?
Estudo mostra que transplante de microbiota fecal pode reduzir gordura abdominal.
As informações são do R7 Ciência para o dia a dia – Imagem gerada por IA
Um estudo publicado na Nature Communications acompanhou, ao longo de quatro anos, adolescentes com obesidade que receberam transplante de microbiota fecal (FMT).
Em termos simples, trata-se de um transplante de fezes de pessoas saudáveis para quem tem desequilíbrio na microbiota intestinal, com a ideia de repovoar o intestino com bactérias benéficas capazes de melhorar a saúde metabólica.
O ensaio clínico, realizado na Austrália e na Nova Zelândia, envolveu 87 jovens. Após quatro anos, 55 permaneceram no estudo, divididos entre grupo placebo e grupo FMT.
O resultado mais marcante foi uma redução média de 10 centímetros na circunferência da cintura dos participantes que receberam o transplante, em comparação ao grupo controle.
Essa diferença foi considerada estatisticamente significativa, sugerindo um impacto real na gordura abdominal, que é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares e metabólicas.
Outras medidas, como peso corporal, índice de massa corporal e circunferência do quadril, também apresentaram tendência de melhora no grupo FMT, mas sem alcançar significância estatística. Isso mostra que, embora a técnica tenha potencial, ainda não é possível considerá-la uma cura para a obesidade.
A microbiota intestinal dos adolescentes também mostrou mudanças duradouras. O FMT promoveu o aumento de 28 espécies de bactérias e a redução de 20, reorganizando de forma estável a comunidade microbiana.
Já no grupo placebo, as alterações foram mínimas, o que reforça a ideia de que a manipulação da microbiota pode ter efeitos de longo prazo no metabolismo humano.
Segundo a farmacêutica-bioquímica Marina Quintas dos Santos, doutoranda em Microbiologia noICB-USPe pesquisadora da área de microbiota intestinal, o estudo chama atenção por mostrar que algumas alterações persistiram por até quatro anos.
No entanto, ela ressalta que existem limitações importantes, como a ausência de informações sobre uso de medicamentos, dieta e estilo de vida durante os três anos e meio em que os voluntários não tiveram acompanhamento, além da perda de participantes ao longo do estudo.
Marina lembra ainda que quatro anos é pouco tempo para afirmar que os efeitos possam ser considerados realmente a longo prazo.
Ela reforça que a microbiota intestinal depende fortemente da dieta e que o transplante fecal não deve ser encarado como uma solução milagrosa para a obesidade.
O tema é promissor e merece destaque, mas ainda são necessários estudos mais amplos e consistentes para compreender melhor os efeitos da combinação entre transplante fecal, alimentação equilibrada e mudanças no estilo de vida.
A obesidade é multifatorial, resultado da interação entre genética, ambiente, dieta e comportamento. O transplante de fezes aparece como uma ferramenta complementar, mas não substitui hábitos saudáveis.








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